O Dirigente Espírita
Entre tantos momentos marcantes do filme Nosso Lar, um que nos chamou a atenção foi aquele em que André Luiz insiste com Emmanuel para voltar à Terra e visitar sua família. O referido mentor o aconselha a consultar o Governador. Surpreso, André pergunta:
- Mas será que ele vai me receber? E Emmanuel lhe responde:
- Aqui os dirigentes dão exemplos.
Em toda organização onde várias pessoas atuam em busca de um mesmo objetivo, necessária se faz a escolha de um dirigente. Vemos, nos registros doutrinários, que em toda atividade há uma pessoa que cumpre esse papel. Para exemplificar: em Nosso Lar, André Luiz relata as atividades do Ministro Clarêncio; Emmanuel, em Paulo e Estevão descreve a atuação de Pedro na Casa do Caminho. Mais do que dirigentes ou coordenadores, estas pessoas são líderes que conseguem mobilizar um grupo ao desempenho de suas atividades.
O Psicólogo e Educador Cezar Braga Said, em Reformador de junho de 1996, no artigo Espiritismo e poder, afirma que “No atual estágio que atravessa o nosso planeta, onde quer que existam seres humanos convivendo, haverá uma relação de poder, uma escala hierárquica, acatada de comum acordo ou imposta segundo os valores e tradição da cultura, do lugar e da instituição a que se pertença.” A este respeito, o pensador Rollo May, na obra Poder e Inocência, enumera a existência de diversas modalidades de poder, estando entre eles: o Explorador, o Manipulador, o Competitivo o Nutriente etc. Mas um deles nos interessa de perto: Poder Integrativo, o poder com o outro, oriundo da comunhão, da convivência pautada em princípios de igualdade e fraternidade, sendo cooperativo por excelência. Sem dúvida é essa modalidade de poder que deve ser implantada na instituição espírita, pois, de acordo a Codificação Kardequiana, a única sujeição que deve existir é a de natureza intelecto-moral. As qualidades de caráter de alguém e sua conduta dentro e fora da Instituição são os indicadores a serem considerados na hora de aquiescer a certas propostas, empreendimentos e decisões que sejam tomados ou sugeridos por este ou aquele companheiro do grupo em questão.
A responsabilidade precípua de quem dirige um grupo de pessoas imbuídas de um mesmo desejo é a de planejar como todos devem consumir o seu dia-a-dia, que é uma atitude humana, essencial à vida de relação. Planejar, no entanto, não é unicamente diagnosticar problemas e necessidades; significa conhecer a realidade existente e definir aquela desejada. Mas é bom lembrar que de nada adianta sabermos onde estamos se não sabemos para onde vamos. É possível que a realidade desejada possa ser construída a partir daquela existente, valorizando, aperfeiçoando o que deu certo e retificando aquilo que necessita de mudanças.
A maior e mais significativa virtude do planejador é sua capacidade de ouvir. Ele deve ser, portanto, detentor da ouvirtude, com disposição para colocar os interesses coletivos acima dos individuais, permitindo que os postulados espíritas estejam norteando todo esse processo.
Em se tratando de obra espírita, convém não esquecer a real necessidade de ser inserida no universo maior que é o Movimento Espírita Nacional, lembrando as lapidares palavras do Venerando Bezerra de Menezes: “Solidários, seremos união. Separados uns dos outros, seremos pontos de vista. Juntos alcançaremos a realização de nossos propósitos. Distanciados entre nós, continuaremos à procura do trabalho com que já nos encontramos honrados pela Divina Providência.”
Sem a intenção de ensinar o que ainda estou aprendendo, o dirigente espírita deverá perseguir estas balizas: ser democrático sem ser permissivo; ser sincero sem ferir os sentimentos alheios; falar para as pessoas e não das pessoas; conviver com as diferenças; não pensar apenas na boa execução da própria tarefa, mas, colaborar para que os companheiros tenham êxito e satisfação no que fazem; aprender a aceitar críticas; reconhecer o valor das tarefas dos companheiros, e aceitar a colaboração e direção alheias sem se sentir diminuído.
Jesus, como o Grande Líder da Humanidade, quando ensinou aos seus apóstolos que, entre eles, quem quisesse ser o maior que se tornasse servo dos demais, estava dando uma profunda lição de liderança (Mt 20:20-28). Portando, o dirigente espírita que se pautar neste ensinamento conseguirá conduzir seus companheiros de trabalho pela força da influência, da autoridade moral e não pelos privilégios que o cargo lhe outorga.
Aos irmãos que assumem a coordenação da instituição espírita ou de alguma de suas tarefas, nossas congratulações, nossas orações para que saiam vitoriosos, pois a tarefa não é simples, embora seja um bom desafio para se crescer um pouco mais espiritualmente.
Waldehir Bezerra de Almeida -
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